A busca pela diversificação da produção foi um dos fatores que levou os produtores Mário e Daniel Wolf a apostarem na integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT). Em 2009 eles aceitaram o convite de pesquisadores da Embrapa, Unemat e UFMT para implantar uma Unidade de Referência Tecnológica de ILPF em uma área de 100 hectares.
“A fazenda sempre buscou novas tecnologias. Como era um experimento novo, a gente acreditou nesse projeto e hoje a realidade está nos mostrando que a ILPF é uma boa opção dentro da propriedade”, afirma Mário Wolf.
No local onde antes era praticada a pecuária extensiva em um pasto em estágio de degradação química, foram plantadas quatro espécies florestais (eucalipto, teca, pinho-cuiabano e pau-de-balsa) em configurações de linhas simples, duplas ou triplas. Entre os renques foram plantados arroz, soja/feijão, soja/milho consorciado com braquiária durante três anos agrícolas. A partir de então, com a colheita do milho, o capim ficou na área e os animais entraram no sistema.
Com a fertilidade do solo reestabelecida e com pastagem renovada, a pecuária passou a ter resultados superiores aos obtidos anteriormente.
“Depois da implantação do projeto a gente dobrou a capacidade de suporte da pastagem. Antes era de 1 a 1,5 unidade animal (ua) por hectare e hoje é de 3 a 3,5 ua/ha, dependendo do módulo em que trabalhamos”, afirma Daniel Wolf.
A taxa de lotação na ILPF da fazenda é ajustada de acordo com a incidência solar nos piquetes, uma vez que algumas espécies florestais geram maior sombra e consequentemente, inibem o crescimento da pastagem.
Além da maior capacidade de suporte, o sistema integrado também tem proporcionado maior ganho de peso diário aos animais.
“Os animais dentro do sistema tiveram um ganho médio de 700 gramas/dia considerando os períodos de seca e chuva. Antes, numa pastagem normal, o ganho era de aproximadamente 400 gramas. Houve um incremente de 300 gramas por dia”, contabiliza Daniel Wolf.
O uso do componente florestal na ILPF buscou atender à demanda da própria fazenda por lenha e mourões tratados. Além disso, parte da madeira poderia ser direcionada para serraria, gerando renda para os produtores. O primeiro desbaste ocorreu cinco anos após o plantio das árvores.
“Nós já utilizamos o primeiro desbaste de eucalipto para lenha do secador de grãos e também para mourões da cerca. Tiramos mais de cinco mil lascas para cerca. A teca, nós usamos no primeiro desbaste para mourões, mas no segundo desbaste já destinaremos para serraria em virtude do valor agregado que a madeira tem”, relata Mário Wolf.
Entretanto, como pioneira, a Fazenda Gamada também teve experiências frustradas. Uma delas foi com a configuração com pau-de-balsa. Devido ao rápido e intenso crescimento, as árvores sombrearam toda a pastagem, inviabilizando o crescimento da planta forrageira. O resultado mostrou a necessidade de ajustes no espaçamento e na densidade de árvores quando essa espécie for utilizada.
Referência regional
Pelo pioneirismo e pelos resultados que vem colhendo, a fazenda Gamada tornou-se uma referência na região norte de Mato Grosso e um exemplo de que é possível produzir de maneira diversificada e com sustentabilidade no bioma Amazônia.
Para divulgar a ILPF, possibilitar a troca de experiências e transferir o conhecimento adquirido sobre a tecnologia, todos os anos a fazenda Gamada sedia dias de campo e recebe comitivas nacionais e estrangeiras em visitas técnicas.
Fonte: Embrapa